Mãe e filha retomam estudos e inspiram mulheres em projeto de educação e proteção no Pará
Mulheres atendidas pelo Eixo Educação para o futuro, turma de EJA Óbidos, receberam tablets e material didático para realização das atividades Luciana Gue...

Mulheres atendidas pelo Eixo Educação para o futuro, turma de EJA Óbidos, receberam tablets e material didático para realização das atividades Luciana Guedes Mulheres moradoras dos municípios de Juruti, Óbidos e Santarém, no oeste do Pará, têm tido suas vidas transformadas pelo projeto "Mulheres Fortes, Crianças Seguras", com ações de educação, formação de lideranças e fortalecimento da rede de enfrentamento à violência. A iniciativa é da Associação de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas (AOMTBAM) com financiamento da Alcoa Foundation. O projeto, com duração de 12 meses, visa o fortalecimento e a proteção de mulheres, crianças e adolescentes na região. Maria das Dores Albuquerque e a filha Lia Rosane são alunas da EJA em Juruti Luciana Guedes Uma das histórias mais emblemáticas é a de Maria das Dores Albuquerque, de 59 anos, e sua filha, Lia Rosane Albuquerque, de 23 anos, ambas moradoras de Juruti. As duas foram selecionadas para o curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA) oferecido pelo projeto, marcando o reencontro de duas gerações com os estudos. "Todo tempo eu ficava dizendo: 'Vou matricular, vou estudar', mas nunca tive disposição. Eu pensava que não passaríamos nessa entrevista, no edital, por morarmos em Juruti e eu trabalhar. Mas, para honra e glória do Senhor, estamos aqui," relatou Maria das Dores. O sonho dela era concluir o Ensino Médio, etapa que precisou interromper há mais de trinta anos, quando trabalhava em Manaus, na expectativa de cursar Contabilidade. Veja os vídeos que estão em alta no g1 A filha de Maria das Dores, a jovem Lia Rosane, também viu sua trajetória escolar ser interrompida em 2019, devido a problemas emocionais e à pandemia. "Eu não era muito boa em matemática, mas a mamãe é boa. Acho que ela vai me ajudar, e eu vou ajudar ela em algumas coisas. Será um apoio mútuo," disse Lia, sobre a expectativa de estudar junto com a mãe. O reencontro com a sala de aula é visto por elas como um estímulo para novas conquistas. Comunidades mobilizadas A vontade de recomeçar é uma força que move as mulheres do projeto. Vanderléia Oliveira, 36 anos, é mãe de seis filhos. Moradora da comunidade Mirizal, ele é exemplo de empenho. Para participar das atividades, ela precisa percorrer uma jornada que começa com uma viagem de quase duas horas de rabeta até a comunidade onde pega um barco de linha, chegando a Juruti somente entre às 20h e 21h. "Eu tinha, e ainda tenho, muita vontade de terminar meu ensino médio. Eu tinha o sonho de estudar advocacia," contou Vanderléia, que soube da abertura das inscrições pelo padre de sua comunidade. Em Juruti, 20 mulheres estão sendo atendidas, e no distrito de Juruti Velho serão 40, totalizando 60 mulheres. Todas as alunas do EJA recebem um tablet para acompanhar as aulas pela plataforma EAD. O projeto também foca na alfabetização de crianças no contraturno escolar, utilizando metodologia lúdica e trabalhando em parceria com associações locais. Em Óbidos, o projeto ocorre no Quilombo do Silêncio, em parceria com a escola local, com o objetivo de fortalecer a cultura quilombola. Para a presidente da Associação de Mulheres Trabalhadoras de Juruti (AMTJU), Ariadne Lima, que está em parceria com a AOMTBAM no município, a educação é o pilar da associação para que essas políticas públicas cheguem e para que as mulheres, através dela, possam se empoderar e se desenvolver, primeiro pessoalmente e, depois, profissionalmente. O projeto está estruturado em três eixos principais de atuação: Educação para o Futuro: Implementação de cursos de Alfabetização e EJA em Juruti, Óbidos e Santarém; Formação de Lideranças: Capacitação de mulheres em liderança e participação política, com realização de 6 oficinas teórico-práticas; e Fortalecimento da Rede de Enfrentamento à Violência: Capacitação de profissionais da rede de atendimento , realização de campanhas de conscientização sobre violência de gênero e implementação de grupos de apoio para mulheres vítimas de violência. Sonho de nível superior O projeto Mulheres Fortes, Crianças Seguras não apenas preenche lacunas educacionais, mas também semeia o sonho de um futuro mais justo e igualitário na vida das mulheres e de suas comunidades. A coordenação espera que, com o sucesso do EJA, o projeto tenha a menor taxa de evasão possível. Maria Auta Santarém, tesoureira da AOMTBAM Luciana Guedes O impacto esperado do projeto é alcançar no mínimo 1.180 beneficiários diretos e 2.360 beneficiários indiretos, além de aumentar a participação das mulheres e da juventude na sociedade e a redução de casos de violência reportados. Maria Auta Santarém, tesoureira da AOMTBAM, compartilha a emoção de ver a dedicação das participantes e revela uma expectativa ambiciosa para o futuro: "Meu sonho é que, após a conclusão, pudéssemos ter um outro projeto para que elas tivessem a oportunidade de cursar o ensino superior a distância (EAD). Elas merecem". Ela também relembrou a luta histórica da AOMTBAM que, em 2010, conseguiu junto à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) trazer a primeira turma de Ensino Superior EAD (Ciências Sociais) para o Baixo Amazonas, após uma exposição de motivos sobre as dificuldades da região. "Eu sempre digo: elas entram como uma mulher e saem como uma nova mulher," afirmou. 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